domingo, 18 de setembro de 2016

O Amor dos Velhos É Ridículo






 

Sentado no carro, no parque de estacionamento do Estádio Nacional, espero os meus companheiros de corrida. A poente o dia vai adormecendo lentamente. À minha frente os ramos dos eucaliptos valsam indolentemente ao ritmo dos últimos ventos de verão. Abaixo de mim, estaciona um carro com dois septuagenários a bordo. O que fazem dois idosos num parque tão recôndito? O Amor dos Velhos é Ridículo!

 

Ele sai primeiro do carro e devagar, com dificuldade de locomoção dá a volta pela parte da frente, com uma enorme delicadeza abre a porta à senhora, e estende-lhe a mão com ternura. O Amor dos Velhos é Ridículo!

 

No parque de estacionamento começam a andar de forma muito vagarosa, ao lado um do outro. Ele de fato de domingo, ela de toillete completa, com saia por baixo dos joelhos. Ele impecavelmente penteado com brilhantina para trás e ela de cabelo armado. Os dois oferecem ao outro o melhor de si mesmos. Passeiam de mãos dadas por cima do empedrado desnivelado, ainda tropeçam. Penso: O Amor dos Velhos é Ridículo!

 

Não podiam ir passear para outro sítio? Noutro sitio mais plano, mais seguro? Para o Jardim com o regato ou o mini golf, ou para a marginal, parece que têm alguma coisa a esconder, se calhar têm! Mas esconder de quem? dos filhos? se calhar não são casados, e não querem mostrar se os filhos dele, ou aos dela. Tem vergonha de si próprios com aquela idade. Penso: O Amor dos Velhos é Ridículo!

 

Toda a gente sabe que com aquela idade já não se podem apaixonar. Agora vão namorar com aquela idade... de mão dada. Penso: O Amor dos Velhos é Ridículo!

 

Será que são amantes, escondendo o seu amor secreto? É que parece pelo comportamento deles. Penso: O Amor dos Velhos é Ridículo!

 

E agora ele passa para a frente dela, segura-lhe as mãos e beija-a! Beija-a na boca. Que ridículo! Penso: O amor dos velhos é ridículo.

Já sei, a vida são instantes, cada um deles é único. Temos de nos lançar porque senão quando damos por eles já passaram, são memórias ou arrependimentos. Será que a experiencia dos setenta e tal anos, já lhe diz quando se lançar e quando ficar? Ou é sempre como da primeira vez? Lançar-se de cabeça. Penso: O amor dos Velhos é Ridículo, Ridículo, Ridículo! Quem me dera um Amor Ridículo, Ridículo como o dos Velhos!

domingo, 11 de setembro de 2016

Treino de Fim de Semana - Preparação para a Ultra




Depois de umas semanas de férias onde o ócio estival foi lentamente penetrando no meu interior, como se o efeito acumulado de exposição ao calor me tivesse criado dentro de mim um molusco invertebrado que me aprisionava os membros e musculos, e tendo em vista a minha primeira Ultra, resolvi regressar a esse ventre de muitos corredores de trail: A Barragem do rio da Mula.

Pelo caminho tinha apanhado o Eduardo, e o nosso objectivo para o dia não era ambicioso, tornar a pôr as pernas a funcionar, ao ponto de doerem durante a semana, isto é entre 15 a 20 kms e cerca de 600 metros de altimetria.

No carro viamos a Serra a vir até nós vestida com um manto branco que, de tão justo me seduzia com todas as curvas do seu corpo.

Comecei como (quase) sempre, dando a volta à barragem, subindo o trilho das pontes, um dos meus preferidos, e depois entrando nos estradões que vão desembocar no cume da pedra amarela. Pelo caminho, e de repente entrei numa bolha dentro universo feerico, eu e as arvores abraçados pelas nuvens baixas. A contraluz, as teias de aranhas pareciam tecidos com fios de pérolas.


A humidade acumulava-se nos ramos, nas folhas, até ser grande o suficiente para formar gotas de desafiar a gravidade e fazer chover... era estranho que esta chuva formada à minha frente, só escolhesse algumas árvores para fazer a sua aparição fora de época.

Num esforço final chegamos à Pedra Amarela, um dos pontos altos de muitos dos meus treinos e ao olhar para nascente, os meus olhos repousaram num (vale de) lençol(is) de nuvens que deslizava(m) lentamente pelo corpo / silhueta da serra abaixo, (que ao descer) era perfurados pelos picos da serra, distinguindo-se ao longe os dois torreões do Palácio da Pena que perfurava aquela imagem de paz.

Recuperei as forças e parti para o próximo ponto do treino: A Peninha, passando pelas duas irmãs, subimos à peninha para outro miradouro sobre o Tejo, Montejunto, O Guincho, a anta de Adrenunnes.

Descemos para espreitar a vista do Cabo da Roca e falamos sobre o Trilho das Viuvas. Eduardo: Estava a pensar não fazer o trilho das viuvas hoje, deixavamos para outro dia não? Zé: Sim tens razão, é divertido ir a correr por ali abaixo, mas se o fizermos fazemos quilometros a mais, metros a mais de altimetria e passamos a semana toda com as pernas a doer. O mais sensato é voltar para trás...

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Ok, aí vamos nós downhill... DESCIDA TÉCNICAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaa!!!

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Depois da euforia, contemplamos seriamente a subida. Afinal de contas tinha de haver um preço a pagar por tamanha alegria. Calmamente o alcatrão levou-nos por um tunel mágico de luz e brumas até um abastecimento nas pedras gémeas e depois para os Capuchos.


Lá em cima, uma troca de palavras breves com uns BTTistas e voltamos a descer para o Trilho das Pontes para uns minutos de divertimento final e depois para a Barragem.



O relógio gritava-nos que apenas tinhamos feito 17 kms, e como quem faz 17 faz sempre 20, atravessámos a estrada e passamos pela primeira vez à descoberta da Quinta do Pisão, mas só um bocadinho. Fica para a próxima...